A Simbologia da Montanha

A montanha é a morada do Eremita, tão alto e tão perto de Deus, símbolo de recolhimento, paz e reflexão.
O Eremita, perdido no caos e na desordem, busca o silêncio e a contemplação. Seu objetivo é o topo da montanha, mas ele não se encontra nem sequer no pé da montanha. A caminhada é longa, um vasto deserto se encontra no caminho, mas o Eremita não desiste e nem se deixa levar por suas miragens, fruto de sua mente preguiçosa, mas persevera em sua fé. Nas areias e no frio da noite o Eremita caminha pacientemente, em penitência, com o calor de sua luminária, ignorando o pensamento de desistência latente em seu subconsciente mundano.
Ao pé da montanha, a subida é íngreme e com uma densa mata. Animais perigosos passam pelo caminho e o Eremita fica vigilante na maior parte do tempo. Meditar é impossível com tantos insetos a incomodá-lo.
No meio da subida a mata se escassa, porém o Eremita se depara com arbustos espinhentos a denegrir suas vestes e furar sua carne, mas não há outro jeito de passar desse obstáculo senão com a dor e com a perda. Ele deve continuar antes que o fogo que carrega se apague por completo.
Enfim, o Eremita passa por um caminho de grandes rochas, algumas firmes outras escorregadias, não sabendo em qual rocha confiar senão experimentando por-lhes o pé. Ele se encontra em tal altura que os insetos não vagam e os animais perigosos são raros, contudo ainda não é o local perfeito. O Eremita não se acomoda com a facilidade e é diligente em sua missão.
O Eremita não desiste até alcançar o topo, onde os animais não atrapalham, os arbustos não cortam, as pedras não escorregam e o vento bate forte e sereno na face. Quando enfim chega na rocha mais alta do topo, o Eremita observa satisfeito todo o caminho que percorreu. Com um suspiro profundo, ele consome suas provisões, se acolhe em seus trapos, se senta firme no solo e, com sentimento de satisfação, começa a meditar, entrando no mais profundo do seu coração. Sua luminária nunca se apagará.

Só os verdadeiros buscadores reconhecerão a simbologia presente no texto acima.

A montanha é uma verdadeira ascensão na Árvore da Vida. Se você, caro leitor já subiu uma montanha, sabe o quanto a cansativa e perigosa subida vale a pena no final, sabe também o quão majestoso é a vista do topo e a vontade de fechar os olhos com o vento batendo em nossa face. O alto da montanha, com toda aquela calma e serenidade, nos inspira a meditar.
Muitos cenobitas do passado buscavam nas montanhas o lugar perfeito para suas práticas ascéticas. O caminho penoso até o topo valia como uma dolorosa purificação e uma jornada fadigante mas valiosa para alcançar o lugar mais adequado para meditar e contemplar o mistério divino. Talvez o mais conhecido monte onde tal prática acontecia era o Monte Carmelo, na Palestina, onde o profeta Elias revelou Deus e onde foi iniciado a Ordem Carmelita, cujo legado espiritual é de grande importância para a vida hesicasta e contemplativa.
No cristianismo oriental é famosíssimo o Monte Athos, um dos lugares de maior espiritualidade do mundo, lar de diversos mosteiros, assim como o Himalaia, onde muitos vivem uma vida monástica segundo o costume ortodoxo.
Aliás, é sempre válido lembrar que foi em montes onde Jesus se transfigurou (Transfiguração) e instruiu as pessoas (Sermão da Montanha). Montes e montanhas possuem um enorme valor espiritual para quem busca a Deus em seu próprio interior, mas só com a disciplina e a força de vontade este êxito é alcançado, pois muitos querem ver a Deus, mas poucos estão dispostos a penar para isso.

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