Qual é a importância do Perdão?

O perdão é mais que uma virtude, é um ato de desprendimento e de libertação para a nossa alma em relação à outra. Podemos dizer que ele antecede a virtude e antecede qualquer forma de prática e evolução dentro do caminho cristão, visto que o ressentimento e a mágoa em nosso íntimo nos impedem de serguirmos em frente: "Portanto, se você estiver oferecendo no altar a sua oferta a Deus e lembrar que o seu irmão tem alguma queixa contra você, deixe a sua oferta ali, na frente do altar, e vá logo fazer as pazes com o seu irmão. Depois volte e ofereça a sua oferta a Deus" (Mateus 5:23-24).
Antes desse trecho do livro de Mateus, mas no mesmo capítulo, Jesus iguala o homicídio com qualquer desavença contra um irmão. Óbvio que o ato de matar é horrível e tem uma grande diferença em relação à uma mera desavença, mas Jesus os iguala porque ambos produzem efeitos nocivos ao coração, ambos causam pesar e recentimentos. Tais pecados possuem um valor social diferente, mas são iguais no que causam em nossa alma.
Perdoar é um ato de purificação, assim como pedir perdão a alguém e sempre pedir perdão a Deus antes de qualquer prática espiritual. O Kyrie Eleison entoado nos ritos iniciais da santa missa e em práticas individuais é uma antiquíssima fórmula de preparação para receber a graça do Altíssimo. Só com a consciência limpa podemos nos concentrar no que importa e nos aproximar de Deus.

Essa temática em nossa sociedade atual é debatida com dificuldade diante dos conceitos de penalidade no qual nos orgulhamos muito. Para muitos, "bandido bom é bandido morto, tem que torturar sem piedade, tomara que sofra na cadeia". Primeiramente é bom lembrarmos que Jesus e muitos santos sofreram punições semelhantes e injustas, e que, ainda hoje, o sistema penal é muito falho em muitos aspectos. Vivemos em sociedade, portanto uma punição relativa ao crime é necessária e deve ser aplicada, mas nossa concepção humanitária evoluiu o bastante para entendermos que tortura e execução não são a resposta (infelizmente alguns pseudo-cristãos ainda não entenderam isso). Óbvio que a punição é importante, contudo, não precisamos defender uma vingança sádica para reconhecer a importância de condenar um criminoso. Um verdadeiro cristão não deixa seus impulsos puramente emocionais tomarem conta de sua razão.
Em segundo lugar, ninguém nasce criminoso, se torna criminoso, criminalidade é um problema mais social do que individual, portanto o conceito de impiedade é infundável, e o conceito de cidadão de bem é tão retrógrado quanto os fariseus. Sendo assim, não podemos cultivar ódio gratuito, não podemos esperar o pior de um criminoso que já está sofrendo a sua pena, mas sim esperar a sua melhora, esperar que ele reconheça seu erro e que tenha uma chance de recomeçar. Essa chance só se consegue com o perdão. Perdoando, temos a chance de salvar uma alma, a chance de reencontrar o filho pródigo, a ovelha perdida. Não se trata de "adotar um bandido", mas sim de dar uma segunda chance, de fazê-lo se redimir, de instruí-lo sem deixar de reconhecer a importância de sua prisão momentânea. Aliás, visitar os condenados nas prisões era uma prática constante nos primórdios do cristianismo, seja porque muitos condenados eram prisioneiros políticos ou porque o Evangelho deveria ser pregado para quem mais estivesse perdido.

Podemos enfim definir o perdão como uma prática constante de aprimoramento de nós mesmos enquanto indivíduos e de nossa relação com o mundo que nos rodeia, assim como dar o melhor exemplo para aqueles que nos desejam o pior. Quando o Papa João Paulo II perdoou o homem que lhe deu um tiro, ele se mostrou superior ao atirador e evitou o que poderia ser uma eterna desavença. Quando os mártires cristãos (incluíndo nosso mártir maior Jesus Cristo) perdoavam os seus algozes, mostravam que apenas um lado alimenta o ódio, apenas um lado é desprovido de virtude, apenas um lado é violento. Provavelmente se os cristãos do passado respondessem com a mesma moeda de seus opositores, dariam mais motivos para serem difamados e a doutrina de Cristo talvez não tivesse sobrevivido até hoje. Enfim, só podemos encontrar a paz, caminho fértil para as virtudes, com o perdão.

Para concluir, deixamos aqui os seguintes ensinamento de Jesus sobre o perdão:

"Respondeu Jesus: Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes." (Mateus 18:22)

"Tenham cuidado! Se o seu irmão pecar, repreenda-o; se ele se arrepender, perdoe. Se pecar contra você sete vezes num dia e cada vez vier e disser: “Me arrependo”, então perdoe." (Lucas 17:3-4)

"Perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos as pessoas que nos ofenderam." (Mateus 6:12)

"Então Jesus disse: Pai, perdoa esta gente! Eles não sabem o que estão fazendo." (Lucas 23:34)

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